A “beleza” sempre foi
definida pela classe poderosa no momento, uma minoria das pessoas. Por isso é
comum que o padrão de beleza de uma sociedade corresponda, na realidade, a um número
pequeno de pessoas. Isso acontece porque
quem tem poder 1) impõe seu tipo físico como modelo ou 2) impõe o tipo físico que gostaria de ter( nada impede que quem tem poder numa sociedade esteja
subordinado a um grupo poderoso de outra sociedade).
Não só a beleza, mas a
feiura também é estipulada pela classe dominante. No nosso caso, apesar da
maioria da população ser mestiça, valorizamos olhos claros, cabelos loiros e
lisos. Por quê? Até quando?
Os europeus nos impuseram à
pólvora seu modelo de beleza durante as “conquistas” e os “descobrimentos”. Consideraram
os ameríndios bonitos e os africanos feios. Para os europeus, os
ameríndeos possuíam traços mais parecidos com os traços europeus, “maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos.”.[1]
Já os africanos, os
que tinham traços “mais próximos” ao “padrão europeu”( imposto ou aspirado):
eram mais altos, mais claros, com cabelos “menos crespos”( com “cabelos bons”)
eram mais caros e escolhidos para trabalhar na Casa Grande. Por outro lado, os
escravos com “cabelos ruins” e com traços menos similares aos europeus eram
destinados ao trabalho nas lavouras.[2]
E desgraçadamente
viemos arrastando esse padrão estúpido
de beleza e essa babaquice “cabelo bom”
e “cabelo ruim”. A diferença é que agora o modelo nos é imposto
pelas indústrias de cosméticos e da moda, curiosamente, também europeias.
Não somos mais colônias,
por que diabos temos que continuar idolatrando esse padrão? Cabelo serve para proteger a cabeça dos raios
solares e para diminuir a perda de calor. Se o seu cabelo faz isso, ele é bom. Somos
livres, podemos fazer o que quisermos com nossos cabelos. Temos toda uma indústria
ao nosso dispor, tanto avanço tecnológico, para quê? Não é justo que agora nos
transformemos em escravas do que as indústrias de cosméticos querem.
Cabelos não são ruins.
Ruim é a nossa preguiça de pensar por
conta própria.
[1] Carta a el-rei D. Manuel sobre o achamento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha.
[2] Livro do Cabelo - Leusa Araújo
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