Bom, a ideia da
monitoria surgiu porque muitas meninas me perguntavam o que eu fazia no cabelo.
Eu já fiz de um tudo, já fiz chapinha, já tive rasta, já fiz relaxamento, já
cortei errado e ficou horrível. Aos 18 anos, o professor de química do cursinho
pré-vestibular, prof Alex Fabiano(hoje professor adjunto de química da UnB),
nos explicou em diferença entre cabelos
lisos e cabelos crespos: a presença de enxofre. Quanto mais enxofre, mais
crespo. O que a chapinha e o secador fazem é quebrar as pontes de enxofre por
meio do calor, mas assim que a água toca no cabelo, as ligações se restabelecem.
Nos explicou também como eram os alisamentos químicos. Saber isso era parte do
conteúdo de química para o vestibular,
como também conteúdo de física das
molas.
Então, juntando A + B:
se o meu cabelo cacheado tem uma estrutura químico-fisica diferente de um
cabelo liso, NÃO É POSSÍVEL QUE A MESMA FORMA PARA PENTEAR SIRVA PARA OS 2.
Então eu tive que encontrar uma forma de pentear que respeitasse a estrutura e
a beleza do meu tipo de cabelo. E para mim, é aqui que está o grande erro das
empresas em geral de cosméticos para cabelos cacheados e crespos. Os produtos já
são excelentes. Mas elas não pensaram
que a forma de utilização do produto faz toda a diferença.
Então, como elas não
dão ênfase na técnica, começam a apresentar os produtos como fórmulas
milagrosas. Apresentam na propaganda um cacho meio bagunçado, e com o simples
uso do produto ele magicamente se organiza e fica definido. Prometem hidratação
por X horas *, cachos 100% mais hidratados*, redução do frizz*. Mas se
começamos a ler os asteriscos, em letras minúsculas está escrito: “teste
realizado usando shampoo+condicionador+creme de pentear da linha tal versus
shampoo sem agentes condicionantes”. Ou seja, comparam um cabelo onde usaram
toda a linha do produto com o mesmo cabelo, mas dessa vez só foi usado um
shampoo.
Eu passei anos achando
que o problema era o meu cabelo ou os cremes, porque trocava de cremes e nada
funcionava. Até que, descobri que o problema estava na técnica. Estava na
dificuldade de imaginar outra forma de pentear.
A noção de pentear que
temos está ligada a todos os procedimentos para chegar ao padrão de “cabelo
bonito” imposto pela mídia. Como o cabelo liso é o cabelo valorizado, todas as
técnicas para esse tipo de cabelo, desde o simples passar dos pentes à
utilização da chapinha, são amplamente
divulgadas e são consideradas “pentear”. Para estes cabelos, a beleza está em
colocar os fios paralelos uns aos
outros. Mas nós, cacheadas e crespas, a beleza está na definição ou indefinição
dos cachos, no volume, na textura que
queremos ter. Quando muito, nos ensinam técnicas que não são compatíveis com o dia-a-dia da mulher
atual. Dizem que devemos secar o cabelo com toalhas de papel (que consciência ambiental,
hein!), que devemos esperar os cabelos secarem em um lugar onde não tenha
vento. Mas nenhuma empresa ensina a usar
o difusor, por exemplo. Querem o que? Que a gente passe 5 horas trancada dentro
de um quarto esperando o cabelo secar para sair?
Será que nenhuma empresa vai começar a divulgar
técnicas de pentear diferentes tipos de cabelos? Em vez de um consumo
eficiente, vão continuar investindo nessa estratégia estúpida de consumo
desenfreado de um produto desnecessário? Desnecessário sim, porque não cumpre o
resultado final apresentado. Eu acho que mais do que divulgar uma beleza real,próxima
às consumidoras,as empresas têm que divulgar NOVOS CONCEITOS DE PENTEAR,
técnicas diferentes para tipos diferentes de cabelos e novos critérios de classificação de cabelos.
Meu objetivo não é que todos tenham o cabelo igual ao meu, mas é que cada um
descubra a sua forma de pentear.
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